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5 de Novembro de 2019 | José Augusto Pacheco

Depois de duas mãos cheias de viagens a Timor-Leste, sinto a mesma situação sempre que estou aqui, vivendo o quotidiano da sociedade e cooperando em projetos de um presente que se deseja mais promissor.

Apesar de ter visitado Baucau, num domingo cheio de palavras com as pessoas que, ao longo de uma estrada em total renovação, vendem os seus produtos locais, sobretudo manga e papaia, fiquei em Díli, onde o progresso está em plena aceleração, com novos espaços públicos e novos edifícios.

Mas desta vez, o que mais impressionou foi o sorriso das crianças, que contactei em muitos locais, porque a aposta tem de ser feita no pré-escolar, como recomendam e financiam as organizações mundiais.

Ainda que haja uma diferença abismal entre o ensino público e o ensino privado, este essencialmente nas mãos da Igreja Católica, que Ramos Horta considera ser um dos pilares da identidade timorense, juntamente com a Língua Portuguesa e a Língua Tétum, as duas línguas oficiais, o investimento nesta etapa inicial da educação das crianças é algo de fantástico, com a energia de uma verdadeira construção humana, pois é destas pessoas que depende o futuro e é delas também que se espera uma maior utilização da Língua Portuguesa.

Tenho de dizer que, ao longo destes dias em Timor-Leste, enchi a alma de sorrisos, todos eles encantadores e promissores de uma outra realidade, muito diferente daquela que se observa nas ruas, pintadas de quadros sociais em que as crianças recebem as cores mais tristes.

Quero – e devo – sonhar que é com estas crianças que Timor-Leste pula e avança, nos versos António Gedeão, como bola colorida entre as mãos de uma criança. Pois é, elas agora sabem que é pela educação que o futuro é construído, mas desde que os aliceces sejam sólidos e profundos.

Uma outra constatação diz respeito à atividade notória do Centro Cultural Português, da Embaixada Portuguesa e do Instituto Camões, com um papel central na difusão de uma portugalidade que aproxima os povos e cimenta a sua relação cultural.

Para além das atividades, sempre muito concorridas, como foi o caso da apresentação de um documentário, pela Escola Portuguesa de Díli, sobre os 500 anos da viagem da circum-navegação, e do lançamento de um livro sobre Sophia Breyner Andresen, o espaço é maravilhoso, o atual Embaixador em Díli, Dr. José Pedro Machado Vieira, é de uma cordialidade extrema e o convívio entre portugueses e timorenses é uma boa prova de uma proximidade cúmplice e duradoura.

E das tantas vezes que por ali passei e lia, num terreno maltratado, em letras já gastas de uma placa amarelecida, “Futuras instalações da Embaixada de Portugal”, dizia para mim, em surdina melancólica, que o país gostava de adiar o seu papel de grande divulgador da Língua Portuguesa.

Estava errado, felizmente!

 

 

(escreve de acordo …..

 

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