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Sem a ministra teria havido muito e melhor comida

13 de Fevereiro de 2024 | Helena Ramos Fernandes
Sem a ministra teria havido muito e melhor comida
Opinião

Sem agricultura não há comida, mas sem esta ministra teria havido muito e melhor comida acessível a todos.

O fim da agricultura é a fome de todos nós. São inúmeras as mensagens que ultimamente têm ecoado em manifestações de descontentamento em virtude da aplicação de políticas e burocracias nacionais insanas e mal estudadas. Por aqui, terra com invejáveis paisagens, a agricultura é uma realidade na maioria das famílias. Aquelas que lutam de sol a sol para manter as suas terras produtivas, e consequentemente, sem matos. Por aqui, as coisas não andam famosas. Mas mesmo assim, e apesar dos sucessivos golpes que os nossos agricultores têm vindo a sofrer, as nossas paisagens mantêm-se bonitas.

Sim, caro leitor, a nossa terra é realmente muito bonita. E isto porquê? Porque umas centenas de homens e mulheres sabem o que é uma enxada! Ou o que é uma roçadoura. Mas também sabem o que é uma Aplicação (APP) para conseguirem uma foto georreferenciada. Homens e mulheres que colocam comida nos nossos pratos, sem nenhuma estrela Michelin formalmente atribuída, mas merecedores de todas elas. Homens e mulheres que lutam contra o alastramento dos matos que teimam em aparecer onde o abandona da lavoura é uma realidade. São agricultores, caros leitores, não são da Marvel, são de carne e osso, e são heróis disfarçados e muito corajosos.

São bem tristes os comentários sobre a agricultura e sobre agricultores, que se vão lendo e ouvindo, por aqui e por ali, de gentes que se consideram sabedoras. Estes tristes ignorantes, que talvez nunca tenham pegado numa enxada, emitem opiniões com base num desconhecimento total. Aqueles que vão ao supermercado e compram em função do pacote sem se preocupar com a história associada ao conteúdo, que supostamente vão comer. A verdade é que se soubessem algumas dessas histórias, talvez lhes provocassem uma indigestão de tão duras e tristes que são. E é verdade que as histórias são muitas. As mais tristes e infelizmente, recorrentes, advêm de certas políticas ambientais. Políticas absurdas que penalizam quem realmente cuida da terra, do ambiente e da paisagem. Regras estúpidas que o agricultor, cada vez mais limitado, tem que cumprir para conseguir um preço justo para os seus produtos. Produtos estes que vão enriquecendo os intermediários que enchem o bandulho daqueles que só se preocupam com o pacote. “A terra é a mãe de todas as coisas, e os agricultores são os seus cuidadores” (Wendell Berry).

As manifestações de agricultores que têm ocorrido por todo o país, apelam, entre outras coisas, à razão dos decisores em relação às exageradas e não adequadas obrigações ambientais associadas à actividade. Obrigações que na sua maioria são ridículas. O ambientalismo de secretária já irrita. Por um lado, cobram multas a quem pode pagar para poluir, por outro obrigam os cuidadores da terra a cumprir com exigências tolas e completamente desajustadas da realidade. Esquecendo-se por completo o benefício que a agro-pecuária e a silvo-pastorícia têm para o ambiente.  Estas manifestações serviram sobretudo para tentar evitar o fim de muitas explorações agrícolas. O Alto Minho, pela sua tipicidade característica, sai penalizado porque quem legisla não conhece as realidades locais. Lisboas e arredores, mesmo depois de anos de explicações em vão, ainda não perceberam a importância, por exemplo, dos nossos baldios nos usos e costumes associados à agricultura, e mais ainda na pecuária extensiva. Caros leitores, no Minho prevalece ainda o minifúndio, explorações e propriedade de reduzida dimensão. E nesse contexto as áreas de baldio são demasiado importantes para serem excluídas das terras que o agricultor cuida. E apesar dos vários pensamentos sobre certas realidades associadas a estas práticas, eu continuo e continuarei a defender a agricultura e o verdadeiro agricultor. Aquele que precisa destes meios para conseguir sobreviver perante regras que só parecem ter sido desenhadas com o intuito de o excluir.

Mas, caro leitor, a luta em prol de uma agricultura justa e sustentável também se faz com base na diplomacia. Provando através de evidencias claras, que os decisores erraram em vários momentos, não só a nível nacional, mas sobretudo com esta nova política agrícola comum. Este tipo de luta é mais eficiente na obtenção de soluções prontas e viáveis quando o interlocutor não é surdo. O que não parece ser o caso da ministra, que só sabe falar em milhões, querendo apenas acabar com a agricultura nacional. Depois do pior, ela quer dizer ou prometer o quê? Será que ainda há quem se deixe enganar? Espero sinceramente que não! E, talvez, uma das reivindicações dos agricultores devesse ser a expulsão imediata desta senhora que por subserviência política desrespeitou todos os agricultores portugueses. Caros agricultores, não se deixem enganar por alguém que nunca quis proteger os vossos interesses. Se fosse diferente não estariam hoje na rua, sem as vossas organizações, em quem vocês sempre confiaram, e a quem ela nunca deu ouvidos. Talvez a sua missão não fosse apenas desmantelar o Ministério da Agricultura. A missão dela era mesma a de destruir toda a força deste sector tão importante.

No passado dia dois de Fevereiro aconteceu um desses momentos em Paredes de Coura. A maior Confederação de Agricultores do país (CAP) escolheu a nossa vila para realizar o Conselho Consultivo do Entre Douro e Minho. Onde reuniu com todas as organizações filiadas desta região. Claro que isso aconteceu porque uma delas está sediada neste concelho, e porque nem sempre a dimensão define a importância de uma estrutura. Este Conselho, onde se discutiram os problemas que assolam o sector nesta região, foi acolhido pelo Município, com a presença do vereador Tiago Cunha. Este demonstrou ser um político atento e conhecedor dos problemas que assombram o sector agro-pecuário e florestal, e com imensa vontade em encontrar soluções. Provando que os políticos podem e conseguem estar preparados. O presidente do Município também marcou presença no almoço com produtos da terra, e causou, como é seu habitual, uma boa impressão. Todo este envolvimento, numa perspectiva regional e nacional, dignificaram o nosso concelho. Um orgulho courense em mais um momento de luta contra as adversidades políticas que teimam em visar este sector. Uma luta em prol da agricultura e dos seus principais actores. Caro leitor, sem agricultores não há comida.

 

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