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COMBOIO SEM TRAVÕES

4 de Fevereiro de 2019 | Helena Ramos Fernandes
COMBOIO SEM TRAVÕES
Opinião

 

“O que aconteceu com o aquecimento global? Volta. Precisamos de ti”. A ironia foi dita há dias pelo Presidente dos Estados Unidos da América, numa altura em que várias cidades deste país enfrentam temperaturas mínimas recordes de 50 graus negativos. A questão de Donald Trump deixou-me chocada, confesso. Já por várias vezes esta individualidade tem manifestado sinais de ignorância e proferido afirmações infelizes. Esta entrou, sem dúvida, para o Top 10.

Sim, caro leitor. O frio que ocorre nos Estados Unidos da América tem a ver – e muito – com o aquecimento global. Estamos perante a vaga de frio mais grave das últimas décadas neste país. No entanto, no outro extremo do planeta, na Austrália, os termómetros sobem aos 40 graus.

Nos meios de comunicação social fala-se muito do tal vórtice polar como o grande causador do frio para os norte-americanos. Um fenómeno que geralmente se localiza no Árctico, mas que desceu até aos Estados Unidos nas últimas semanas. E porque é que ele desceu? Adivinhe, caro leitor. Exatamente! É aí que entra o aquecimento global. Dizem ainda os cientistas que “esta anomalia, provocada pelas alterações climáticas, é ainda responsável pelo aumento das temperaturas durante o Verão no Círculo Polar Árctico.

Considerando que a Terra é uma esfera, temos então diferenças abismais de temperaturas em dois pólos. E não estou a falar dos pólos que conhecemos. Estou a falar de pólos que devem ser entendidos como partes opostas: os Estados Unidos na América com 50 negativos e, no outro pólo, a Austrália com temperaturas elevadíssimas. Acha isto normal, caro leitor?

Enquanto já se contam pelo menos oito mortos devido à vaga de frio que assola os norte-americanos, há um Presidente que vai ironizando com esta situação. Vai gracejando. Vai sorrindo sem ter claramente a noção de que vive num dos países com maiores culpas no cartório.

Entendamos por aquecimento global todo o processo de aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da Terra causado por massivas emissões de gases que intensificam o efeito estufa, originados de uma série de actividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra, como o desmatamento, bem como de várias outras fontes secundárias. O que terão os Estados Unidos da América a dizer sobre isto? Inocentes? Não me parece. De todo.

Infelizmente, os culpados de tudo isto que está a acontecer ao planeta não são apenas os norte-americanos. Somos todos. Um descuido de décadas atrás de décadas. Já são vários os cientistas a afirmar que, mesmo que parássemos de emitir gases a partir de agora, seriam precisos muitos milhares de anos para a Terra voltar a ser o que era antes de uma Revolução Industrial, por exemplo.

Em suma, o que está a acontecer do outro lado do Atlântico e também na Austrália é só mais uma prova de que estamos todos dentro de um comboio sem travões. E foi o próprio Stephen Hawking, ilustre astrofísico que nos deixou recentemente, que considerou que a humanidade terá mesmo de deixar este planeta dentro de aproximadamente 100 anos. Causas? Várias. Entre elas as alterações climáticas, claro. Ou então, disse ainda Hawking, “será tarde demais”.

É bom que estejamos conscientes disto e façamos, pelo menos, alguma coisa para minimizar a emissão de gases para a atmosfera. Não será fácil travar este comboio. Claro que não. Mas que não permaneçamos na ignorância como Donald Trump e que nem andemos por aí a lançar questões que, ditas irónicas, ultrapassam largamente os limites da estupidez humana.

 

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