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QUOTIDIANO

22 de Janeiro de 2019 | José Augusto Pacheco
QUOTIDIANO
Opinião

Mais um ano, mais uma crónica, mais um evento.

O dia 5 de janeiro foi marcado pelo encontro de janeiras do concelho de Paredes de Coura, realizado no centro cultural e materializado por 15 associações, que assim deram corpo a uma das tradições mais ricas e bonitas do cancioneiro popular courense, conforme se pode ler no folheto de divulgação.

Sendo realizado anualmente, confesso que foi a primeira vez que estive presente e que gostei imenso, sobretudo da mobilização de crianças e jovens, numa prática de construção da ideia de comunidade, onde os mais velhos têm uma presença marcante, sendo portadores de uma cultura que jamais pode cair no esquecimento.

E nessa noite, depois de um dia amarelado pelo sol frio, como é próprio de um inverno de janeiro, o calor humano foi muito partilhado por público, cantores e músicos, dando colorido a uma sala totalmente repleta, em que os grupos foram cantando suas tradições, guardadas ao longo do tempo, ao ritmo de um espetáculo digno de ser recordado.

Com a projeção das letras num ecrã grande, o público podia acompanhar mais facilmente os textos, cantarolando, nas suas vozes mais tímidas, os versos bem pensados e bem rimados, com refrões muito variados.

Seria interessante fazer uma análise destes textos e verificar de que modo os grupos são portadores de tradições sem tempo e idade, para além de simbolizarem aspetos da vida quotidiana, mesmo que muitos deles estejam definidos pela religiosidade que é a alma de um povo.

Gostei, já o disse, das janeiras e recordei tempos de rua, em que os grupos iam de casa em casa, levando sua alegria e recebendo em troca a compensação merecida, muitas vezes associações em campanha de recolha de fundos para obras inadiáveis e de grande valor social.

Sim, as janeiras já constituíram, em tempos idos, formas de enorme empenho social, para responder a carências que não podiam ser ultrapassadas sem o contributo generoso das pessoas de Coura, tal como é hábito acontecer com a realização de cortejos, dedicados aos bombeiros ou às obras na igreja paroquial.

Mas nesta noite de janeiro, as janeiras foram generosas e alegres e a tradição foi cumprida de modo irrepreensível por grupos mais tradicionais ou grupos mais emergentes, sempre com o sentido de partilha e de uma entrega comunitária assinalável.

A diversidade dos grupos foi notória, revelando que a simbologia de uma comunidade pode ser representada pelas janeiras enquanto tradição que dá as boas vindas ao novo ano, tal como os reis magos o fizeram ao Menino Jesus.

 

 

 

 

 

 

 

 

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