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6 de Dezembro de 2023 | José Augusto Pacheco
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Opinião

Já se esgotou o tempo previsto, e parto desta terra que me prende afetivamente, obrigando-me a criar raízes em solos permeáveis à chuva, que cai intensamente, ou em montanhas que se esfarelam por entre mãos rígidas, que abraçam todas as contrariedades.

Timor-Leste é uma nação em construção, não apenas pela idade que começou a contar após a independência, ocorrida em 2002, como também pela forma de resolver problemas que são próprios de um país, que ainda é uma criança, apesar das suas tradições com muitos séculos, quase sempre descritas pela vontade férrea de vencer.

Resistência é, por isso, uma palavra que se aplica totalmente a este país, seja na luta contra o poder colonial, especialmente assumida como objetivo político no tempo da ocupação indonésia, impondo uma assimilação cultural e linguística à lei da bala, seja no contornar das dificuldades do dia a dia.

Há imagens desse modo de viver que ficam registadas na nossa mente, e que jamais podem ser descritas, por questões que não têm explicação para quem não as presencia diretamente.

Há outra palavra que faz sentido invocar para explicar a razão de ser timorense: identidade, mas essencialmente religiosa.

Não há evento público, por mais formal e laico que possa ser, que não tenha o selo da religião. Reza-se no restaurante, na escola, na universidade, e muito mais nas igrejas, construídas de modo grandioso nas cidades e nos sucos (aldeias).

Neste sentido, o cristianismo é a seiva que alimenta a nação timorense no seu todo, havendo uma forte relação entre o poder político e o poder religioso.

E se não fosse esse lado profundamente cristão, que a Indonésia tentou contestar com a construção de mesquitas, que rapidamente desapareceram com a independência, Timor-Leste não seria uma nação forte e solidária, capaz de ter uma agenda de desenvolvimento no contexto dos países asiáticos.

Poder-se-á dizer, também, que a identidade linguística é um dos pilares da nação timorense, quer se falem as duas línguas oficiais (Tétum e Português), quer se usem as muitas línguas locais, numa mistura babélica de grafias e sons.

Essa é a principal razão para aqui permanecer duas longas semanas, aceitando que a vida é um nascer de sol que nos inunda de afetos, tradições, resistências, identidades.

 

 

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