Olha-se e sente-se, de um modo totalmente diferente, para o território de Coura, quando se fala com as pessoas em suas casas, e se percorrem também os seus caminhos. É nesta proximidade que damos sentido ao que lhes dizemos, como se estivéssemos num diálogo permanente com os nossos antepassados.
E nesse estado de entranhamento, o concelho revela-nos toda a sua beleza paisagística, num tom de ruralidade que é a marca de uma natureza deslumbrante, bem como o rosto das pessoas, que continuam a preferir lugares carregados de grande afetividade familiar. Hoje, dia 2 de outubro de 2025, senti-me particularmente feliz.
Falei com pessoas, ouvi suas vozes, percorri caminhos, e observei espaços ocupados, desde tempos longínquos, por muitas gerações, formando esse caldo humano, envolto em laços de família, que jamais se desprendem de nós próprios, e formando a nossa pele geracional.
Sabia que minha avó materna tinha nascido em Cristelo, assim me foi dito por minha mãe desde que comecei a compreender o sentido das palavras. Que se chamou Carolina da Brito, tendo-se casado com José Maria Fernandes Braga, e fixado residência na casa da Veiga, freguesia de Paredes de Coura – portanto, meus avós maternos.
Na semana passada, e após muitas horas de leitura de registos paroquiais de Cristelo, fiquei a saber muito mais: minha avó materna foi batizada com o nome de Carolina, e apostilada com estas duas palavras “de Soutelo”, tudo isso no dia 28 de fevereiro de 1877, tendo morrido em1944, a escassos dias de fazer 67 anos. Teve três irmãos e duas irmãs: Rosa (1873), José (1875), Maria (1879), João (1880) e Manuel (1822).
E mais: Rosa Joaquina de Brito é a minha visavó materna (casada com Casimiro Bernardo de Sousa, natural de Santa Comba de Eiras, “dos Arcos do Vale do Vez”, sendo Francisca de Brito a trisavó (matrimoniada com João António Fernandes, nascido em Parada), também as duas do lugar de Alvarim, “da freguesia de Parada de Coura.”
Se os dados paroquiais estiverem disponíveis para esses tempos, saberei o trajeto dos restantes familiares maternos, constatando, decerto, que as geografias pessoais estão em constante movimento, sempre em busca de futuros melhores.
No sentido inverso de rio e regatinhos que fogem de suas nascentes, hoje reencontrei- me com Soutelo, e neste lugar observei parte das minhas raízes familiares, verdejantes em dia de outubro veranil, fixando-me ainda mais a este maravilhoso território que é Paredes de Coura, moldado por sucessivas gerações de lavradores e lavradeiras.
José Augusto Pacheco