Caminhavam as Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa para o final do seu último dia, quando eu me deslocava numa carruagem quase vazia no Metropolitano em direcção ao Lumiar.

Estávamos no ano de 2023, o movimento na cidade e arredores tinha sido intenso, ou, pelo menos, e conforme as zonas, bastante animado.

Era hora de regresso a casa nesse domingo, entre as poucas pessoas, encontrava-se ao centro da carruagem um pequeno grupo de jovens em pé, fazendo círculo, e acertando em tom e jeito moderados, o ensaio das suas canções.

Separada, apenas vinha uma jovem, entre os 16 e os 20 anos, sentada no banco oposto ao meu. Da minha parte, e observando aquele grupo, senti uma forte curiosidade por saber em que língua cantavam, excluídos os países da União Europeia. Os seus rostos não ofereciam especiais marcas étnicas, talvez em causa, arrisco, o europeu caucasiano.

Procurei afinar o ouvido para poder entender melhor as modulações sonoras e matizes que me permitisse decifrar a origem dessa língua em que cantavam.

Foi assim que tive mesmo de formular a pergunta à jovem na minha frente, sobre quem eram e de onde vinham. Resposta: Palestina!

Era uma rapariga deveras bonita que pela sua expressão naquela hora já tardia acusava alguma fadiga, devida, certamente, a toda a actividade e movimentação daqueles dias. Ou era antes o resultado do seu estado de alma?

Muitas vezes me lembro daquele pequeno grupo e do rosto daquela menina. Pergunto-me se terão sobrevivido até agora? Ou, ao contrário, poderei estar a ser levada a entrever ossos em estilhas, corpos na lama sangrenta, ânimo esvaído de cansaço e fome?

Mas resta ainda o alegre eco das canções numa língua que gostaria de voltar a ouvir, para conhecer.

Helena Cunha