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Publicação quinzenal dedicada à informação local de Paredes de Coura. Aqui encontra notícias, reportagens, entrevistas e agenda cultural do concelho. Um espaço de proximidade que dá voz à comunidade courense.

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Severa: a moda que canta fado

07/10/20254 Minutos de Leitura
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Hoje decidi contar-vos a história da Beatriz e da sua “Severa”. Um exemplo que mostra que só saboreamos as nossas paixões quando arriscamos. O caminho, os motivos e as frustrações, podem ser os nossos maiores receios, mas também são eles que nos fortalecem e nos fazem perceber aquilo que queremos.

O nosso país possui raízes profundas e inúmeros talentos que florescem de geração em
geração. A tradição e a modernidade andam de mãos dadas neste nosso Portugal. Um exemplo magnífico dessa combinação é a moda. Temos nomes consagrados nas praças da moda nacional e internacional que de ano para ano criam as suas obras, sem nunca perderem o seu registo, refiro-me aqui aos nossos designers. São as andorinhas portuguesas: levam a nossa identidade para além-fronteiras, regressam sempre às suas raízes e, com cada voo, mostram que o futuro da moda portuguesa é vibrante, autêntico e cheio de coragem. Hoje não falo dos grandes nomes como Fátima Lopes, que como já sabem, tem um lugar especial no meu coração. Hoje quero que conheçam o futuro.

É nos novos rostos da moda nacional que encontramos a Beatriz Barbeitos, uma jovem designer lisboeta com raízes em Monção. Uma terra pela qual ela guarda um carinho especial e onde encontrou um refúgio. Recentemente, a Bea viveu um dos momentos mais importantes da sua vida, o seu primeiro desfile. Não estive presente fisicamente, mas de longe aplaudi cada instante, orgulhosa e feliz por ver esta amiga conquistar um marco tão significativo.

Esta menina que olha para os desafios como quem diz “Bora”, criou a sua primeira colecção e denominou-a de “Severa”, um nome que homenageia uma figura lendária do fado: Maria Severa Onofriana.

Quando lhe perguntei a origem do nome foi-me explicado que a Severa, nascida a 1820 em Lisboa, é considerada a primeira fadista da nossa história. Uma mulher de origem humilde que viveu numa época onde a sociedade lhe colocava imensas barreiras, no entanto Maria Severa conseguiu encontrar a sua liberdade através da sua voz. Cantava em tabernas, nas ruas e nos salões, transformando dissabores e amores em melodias. Morreu jovem, mas apesar da sua vida breve conseguiu deixar-nos um legado saciável, foi ela quem deu corpo e alma ao nosso fado, um género que hoje é Património Imaterial da Humanidade.

Ao escolher este nome, não somente homenageia uma figura histórica como resgata uma essência portuguesa. Tal como Severa, também a Bea evidencia que a força das mulheres revela-se na coragem de sonhar e na ousadia de arriscar. A colecção recai sobre essa intensidade e melancolia que é o fado, com um toque contemporâneo e arrojado.

De nome Barbeitos, a marca, com estas primeiras peças reflecte perfeitamente a dualidade tradição e modernidade. Vimos linhas que evocam o passado e detalhes da portugalidade, tudo com um toque de actualidade. Uma verdadeira herança para o futuro. Um manifesto da designer de que a moda é aquilo que nos inspira e pode ser memória, identidade e poesia.

Esta colecção não é apenas algo bonito de se ver, mas também algo lindíssimo de se
sentir. O olhar que a artista transmite, a forma como fala e a emoção que deixa transparecer fazem desta demonstração de arte um evento de partilha emocionante. Foi com a sua determinação, autenticidade e coração generoso que a Bea conseguiu trilhar um caminho que inspira quem a rodeia. Mas nunca devemos esquecer que são precisamente as pessoas que nos rodeiam o nosso maior estímulo, são elas que alimentam os nossos sonhos e, de alguma forma, nos apoiam, transformando os nossos esboços em realidade.

São estas dualidades, Monção-Lisboa, Fado-Moda, Amizade-Orgulho, que mostram que a história que a Bea nos está a contar tem tudo para crescer sobre contornos de sucesso. A garra de uma jovem que sempre procurou sentir-se realizada não pode ser apenas mais uma história de resiliência. Não tem como. Porque quando o talento se junta à verdade, o futuro só pode ser luminoso.

Sandra Fernandes

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