
Estou sem palavras, caro leitor. Ou talvez apenas confusa, para não dizer assutada. Vivemos numa realidade onde a informação é ilimitada, de palavras mil como se de Abrilse tratasse, com a maioria dos pingos desperdiçados por entre as chuvas ácidas desenfreadas e com rumos incertos. E, caro leitor, o problema não são as alterações climáticas, apesar de estas imporem a sua presença destruidora, sob a orquestração da mão humana. O problema é outro, e não menos importante. O mundo virtual e a sua bipolaridade.
Com tanta coisa a acontecer ao nosso redor, e muitas dessas deveras importantes, surpreendem-me, na maioria das vezes pela negativa, algumas notícias e respectivoscomentários que vão surgindo nos meios de comunicação social e redes sociais. Sem apontar esta crítica aos profissionais que escreveram as notícias, sobretudo porque há que fazer pela vida nesse meio competitivo onde o reconhecimento tende a escassear. Apontando o dedo, apesar de se tratar de um gesto menos bonito, para alguns leitores dessas ferramentas, ou uns, mais ou menos ilustres, comentadores, cuja vida pessoal e profissional é tão imaculada, correcta e perfeita que se julgam merecedores de atirarem pedras aguçadas, de forma indiscriminada, sem querer saber se o alvo é culpado ou inocente. E fazem-no sem remorso nem compaixão. Onde será que pára o respeito pelo próximo, ou a simples e básica presumida inocência até que se prove em contrário, um direito mais do que fundamental, um direito humano.
Porque se tornam as pessoas tão incautas, mas sobretudo mais frias e distantes, nesses meios. Talvez porque se distanciam do mundo real, das vivências presenciais com pessoas, dos contactos físicos com cheiros à mistura, da vida tão verdadeira e tão imperfeitamente humana. A era digital já anda a fazer das suas. E algumas com graves consequências sociais.
As conversas de café, outrora inofensivas para a maioria, mesmo que duras para alguns, não passavam de conversas de café, com alcances restritos e com um fim à vista. As conversas agora são outras. Estas, mais parecidas amúltiplos monólogos, passaram para o mundo virtual. E nesse império digital o fim à vista já não existe. Sendo por vezes bastante assustador o que se lê e visualiza nesses meios. E as repercussões que esses escritos possam ter na pessoa alvo, cujos direitos não estão a ser acautelados.
Julguemos o bem, caro leitor, porque o veredito é sempre favorável. Deixemos o mal ser julgado em casa própria, para depois, sim, poder opinar com a verdade.
O mundo virtual também tem coisas boas. E estas podem e devem ser bem aproveitadas. Com as aptidões certas e com toda a segurança possível, sobretudo quando os cibernautas são mais novinhos, podemos navegar por esses mares sem nunca nos distanciarmos da realidade que é a nossa vida e suas saudáveis imperfeições.
Que se escrevam, caro leitor, muitas palavras boas, com o fez meu bom amigo Manuel Tinoco, mais do que ‘Armado em bom’ fê-lo ‘Armado em Bem’. E que este Abril, de águas mil, também seja de palavras mil.
Helena Ramos