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8 de Outubro de 2019 | José Augusto Pacheco
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Há expressões que têm um cunho regional muito próprio e que Aquilino Ribeiro explorou sabiamente na literatura portuguesa, tal como Guimarães Rosa o fez na literatura brasileira, mesmo que a leitura de uma página destes autores signifique uma ida constante ao dicionário, mais fácil em tempos de digitalização da informação e do conhecimento.

Há a expressão “Sábado de Paredes”, bastante usada, mesmo que a feira de Padornelo tivesse terminado há bastantes anos e que a atual feira quinzenal seja um simulacro daquilo que foi em tempos idos.

Refiro-me, agora, ao termo Vila.

“Estou na Vila” – utilizei estes dias a frase numa mensagem de telemóvel.

Num telefonema, e em resposta à pergunta, “Por onde anda?”, respondi, “Estou na Vila”, isto é, estou no núcleo urbano da Vila, podendo estar em poucos minutos neste ou naquele espaço, pois tudo fica perto e em todo o lado nos sentimos bem.

A minha resposta deveria ser mais esta, “Estou em Paredes”, mas não, usei um termo que faz de mim um habitante da freguesia de Paredes [de Coura], sem agregação alguma, porque essa é meramente administrativa, e que me permitiu dizer que não estava a caminho de Coura ou que não estava em Santa.

Depois de ter usado o registo discursivo “Estou na Vila”, pensei como será com outras pessoas de Paredes de Coura, quando se deslocam ao centro do concelho e que têm de responder à pergunta mais usual que nos dias de hoje se faz num telefonema: “Onde estás?”.

Há quem veja nesta pergunta uma forma de controlo permanente, mas penso que não, pois é uma forma de saber por onde anda o nosso interlocutor e se ele poderá falar connosco ou não.

“Estou na Vila”, digo eu, “Estou em Paredes”, dirão outros, é certo, mas ninguém diz “Estou em Coura” quando é preciso identificar o local certo onde dois ou mais courenses combinam para se encontrarem.

De facto, o termo Vila já foi mais utilizado, havendo a tendência para dizer que se está no café, na câmara, na loja rural, na casa do conhecimento, na loja, na saparia, no banco, no restaurante, no centro de saúde, na escola, na empresa ou então na ourivesaria da Dona Dolores ou no café do Senhor Zé, por exemplo.

Quando disse “Estou na Vila”, quis sublinhar que estava por ali e que poderia estar num outro sítio bem próximo, sinalizando uma vontade, já que o estar traduz uma disponibilidade imediata, nem que seja para dizer, “Olá, como está?” ou “Tudo bem?” ou “Como vai de saúde?” ou “Bué de fixe?”.

Pois é, é destes afetos que somos feitos e é com eles que vincamos o nosso lado bem identitário de sermos de Coura – e nesse caso já não digo, “Sou da Vila” ou “Sou de Paredes”.

 

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